Saturday, October 21, 2006

Veneno na boca

Assim como o Diabo faz em seus pactos ,ela fazia.Assinava com sangue a superfície facial de suas vitimas.
Era ela,com rubros sinais,matava e morria pela boca.Sempre querendo mais,desejando exaurir tudo.
Com os lábios sangrando por fora e o coração por dentro,ela saía despejando sangue.Uma vampira insaciável,sugadora das vontades e dos desejos.Só ficavam para trás alguns corpos,meio mortos,meios vivos.Exânimes.
Maligna.Pungindo faces com beijos purpúreos como quem marca seu rebanho a ferro e fogo.Com olhos vazios ela fita.Com boca cheia ela beija.

Thursday, October 12, 2006

Corte Noturna

Noites curtas e ressonantes,recheadas de escárnio para com o mundo,recheadas de fausto,de luxo,conversas e risos.
Senhores da noite,intelectuais e beberrões,fanfarrões , roqueiros,damas e vagabundos , uma cambada só,em seu reservado mundo.Senhores que bebem do tempo com sede de vida,senhores que bebem do álcool com sede de folia.
Verdadeiras cortes noturnas,com reis,rainhas e princesas.Também há bobos da corte,senhores da servidão e escravos que clamam por luxúria.Todos unidos fugindo da crueldade do mundo,fazendo da vida uma miscelânea difusa.
As rainhas e princesas desta corte são belas e elegantes,tem cheiro de amor e gosto incandescente.Os bobos da corte e os escravos estão sempre presos as suas saias,procurando por pernas que os dê sustentação.
Já o Rei é uma figura tétrica.Acha que é Deus e que pode controlar tudo e todos.É o Rei dos lupanares,dos bêbados e dos doentes.
A verdade é que este rei é dono de um coração repleto de travos,desgostos e machucados.Seu gosto é amargo com um toque adocicado,e seu cheiro é concupiscente.
É um Rei sorridente mas solitário.Tão feliz quanto sua própria desgraça,este rei carrancudo.
Eita corte maldita! Mais feliz não há!

Tuesday, October 03, 2006

Confissões embaralhadas

Noite fria era aquela , em que as estrelas se escondiam e as luzes tremeluziam ao longe, lá,
onde o destino me aguardava.Uma profusão de vozes na minha cabeça auspiciosamente sussurravam, diziam que sim e diziam que não. Queriam , mas repulsavam.Desejavam , mas sabiam que era pecado .Não havia um consenso , sabia-se somente que a liberdade prevalecia.
Mas já era hora , não sabia nem mesmo quem eu era, então de nada adiantaria fazer escolhas,quando não se tem o que compartilhar a única opção é a solidão.Quando o desejo de liberdade é maior que a própria vontade , não existe ato ou amor capazes de afastar esse desejo.Sou de todos , e não só de um.Quero abraçar o mundo , e não um ser somente.
Eu estive lá , enquanto ninguém me via. Observando , mesmo “não” estando presente, naqueles centros onde a alegria corria solta Fui só mais um , ou nem fui nada , passei despercebidamente,mas com olhos atentos , eu digo, que eu vi e tive meus alvos, que eu tenho sentidos aguçados, além da realidade presente.
Já agora fora de meus devaneios, era chegado o momento.As palavras sangravam da minha boca,escorriam com dor pelos meus lábios,agora intocáveis e desprezíveis;mas era preciso ser dito.O vazio se tornou profuso, se estendia cada vez mais lá dentro , e não podia fazer mais nada além de sentir e lamentar.
Hora de retornar,queria o caminho da ponte.O Rio lá em baixo, tristonho , capengava em seu leito.Queria que minhas mágoas fossem como o lixo, descartáveis e simples de lidar.Eu queria poder atirá-las no rio , ver ele carregar pra longe , ver a dores sumirem no horizonte e quem sabe um sorriso me caísse dos céus.Mas nada é assim....
Passos curtos , respiração ofegante , o silêncio cortante.Se eu morresse , não sentiria , pois não era nada.Era vazio, e era só.O próprio nada no meio do nada acompanhado de uma elegante sombra negra e moribunda.E nenhuma estrela para iluminar.