Monday, January 28, 2008

Sobre a morte

A morte passa por nóis assim como um dia haveremos todos de passar por ela.
Alguém silenciou.Eternamente.Um silêncio,um brado que dolorosamente passa retumbar no coração.Um eco que passeia na lembrança,sem pedir licença ou permissão.
Tornamos-nos mudos.Calados,até que a penumbra do luto se torne mais leve.Até que essência crie coragem para transmutar-se nesse novo vazio.
E o que é a morte,se não o futuro que cabe a nós todos?Ela te espera.E inconscientemente,esperas por ela.
O tempo não apaga.Apenas tira de foco por alguns instantes.
Lá se vai um velho amigo;um breve amante.



*28/12/87

18/01/08

Wednesday, December 05, 2007

Grito de fausto

O Curativo da ferida que não me pertence.
O monoabraço da multidão
A monogamia das orgias
A poligamia do romantismo
A feminilidade de marte
A masculinidade de vênus

A mentira desta verdade bruta
A brutalidade da delicadeza
O encanto da tortura
A imparcialidade do teu olhar fixo
O lado negro da lua
O pentagrama da tua bruxa

A língua da tua boca
Os dentes desta mordida
A luz que te lambe a face
As unhas que te rasgam as costas
A ira da tua mansidão

As pernas que te carregam nos olhos
Os olhos que carrego na mão
A maçã do pomar no Édem
O Édem,na escuridão lasciva
A estrela suspensa no céu noturno
O relâmpago efêmero da tua tempestade

A flor da tua coroa fúnebre
A graça da tua desgraça
O riso do vagabundo
O sorriso vertical que te enlaça
O poste que ilumina tuas ruas
O poste na esquina da prostitua

A prostituta embutida de cada mulher
O sangue que alimenta teu corpo
O corpo enfermo no leito
A morbidez da tua ferida
O curativo da ferida que não me pertence.

Sunday, November 04, 2007

Olha a chuva...

E se eu ando na rua,toda molhada
sorriso maroto e descabelada
E vocês me olham
como desleixada.

Não faço nada demais
Eu apenas vivo e eu sinto
tudo aquilo que vocês vêem da janela;
com medo
aterrorizados.

Os raios,os ventos e trovões
Fazem parte de mim.
E perdi o meu medo da chuva
ainda que seja tempestade.


"Henriqueta Lisboa"
"- Menino, vem para dentro
Olha a chuva lá na serra
Olha como vem o vento!
- Ah! como a chuva é bonitaE como o vento é valente!
- Não sejas doido, menino! Esse vento te carrega.Essa chuva te derrete!
- Eu não sou feito de açúcar
Para derreter na chuva.
Eu tenho força nas pernas
Para lutar contra o vento!
E enquanto o vento soprava
E enquanto a chuva caia,
Que nem um pinto molhado
Teimoso como ele só:- Gosto de chuva com vento,
Gosto de vento com chuva!"

Doce poesia de infância!

Monday, October 22, 2007

Rogai por nós pecadores

Não comi a maçã.
Apenas mordi as frutos putrefados do Édem.
Visitei os demônios no Paraíso.

Vesti o manto;
Azul e brando;
Todo branco.

Tal como Virgem Maria;
De salto alto e cinta-liga
Do jeito que o diabo gosta.

Acendi as velas do meu funeral
Ainda que clamando por vida.

Andei sob o cajado do pastor;
A Ovelha negra.

Sentei no colo dos Deuses pagãos
Fumei um cigarro diante da cruz
Me banhei em água benta.

Vesti asas,aprendi a voar.
Galopante nos zéfiros
Me deixei por levar
Errante,apenas sigo adiante.
Não vejo horizonte.
Estou no infinito.

Monday, March 12, 2007

Para quem pensa que eu morri...e não é nada.É tudo nada.Tudo ou nada.

Não,não morri.Só dei um tempo em tudo,era muito e era cheio.Cheio de fatos, de idéias e tudo mais mas faltava-me coragem de relatar o que vi nesse tempo de varde,tudo que vivi,tudo que senti e tudo que eu vomitei de dentro pra fora, de fora pra dentro.Coisas que nem eu acredito...mas enfim,recomeçando nesse ano novo.Tudo novo.nada velho.Nem paixões.Nem corações,nem mentes,nem mortos,nem papos.Só o que não muda são os amigos e o rock´n´roll.O bom e velho...de sempre e para sempre,pelo menos até morrer.Até o sol se pôr e até o dia nascer.
De fato hoje acordei inspirada.Rotina de sempre,escola,aulas e professores, então me cai uma tarefa.Uma tarefa que já havia declarada mim mesma muito tempo atrás , mas jamais tive coragem,força ou critividade o suficiente para fazer.Então minha professora,senhora da sala,a guia de nossas mentes ,dementes que sejam,dementes que são.A coruja,sábia, mãos pelas quais todos nós passamos.Basta escolher Se delas se colhem surras para vida,palmadas doloridas de educação ou se você as beija de agradecimentos por tudo que ela lhe estendera até então.
O que aconteceu foi um pedido de tarefa já da semana passada.Uma autocrítica poética,que eu deixei de fazer por conta da semana e do final de semana que tive.Atribulado,turbulento.Resultado é que eu fiz na pressa,na hora,foi expontaneo e sincero,sem aquela coisa de pensar muito o qué e o que não é.Foda-se e é assim mesmo.
A professora fez o seu trabalho,leu,olhou desconfiada e disse que aquilo não era meu.Eu fiquei espantada,o que será que fiz de errado ou será que não sou tão capaz assim...Sei lá,o que interessa é que consegui escrever alguma coisa decente sobre mim mesma,ou pelo menos uma casca disso tudo.Ela me olhou nos olhos e disse que não era meu,eu não soube o que dizer,mas juro que saiu de lá das minhas profundezas:




"No horizonte põe-se o sol do contestado
No meio alto das terras do planalto
De onde veio,de onde nasce
Com luxo de flor que brota para abrir-se
Com destino certo de que há morte.
Como mares revoltos e desatinos
Outrora calmaria de águas extensas e límpidas
Como azul profundo,como negro,
Que mostra tanto quanto esconde.
De alma diáfana,mas invisível
Ser como louco,vesano
Mas de tino aguçado
De quem é tudo,de quem é nada."

Como diria Raul..."Eu sou o tudo e o nada"
E dentro dessa cabe outra do Humberto Gessinger..."Na verdade nada é uma palavra esperando tradução" E o tudo cabe dentro disso também.Se intercalam entre tudo e nada, e se calam para não dizer nada.Porque não sou nada.Sou nada.

Saturday, December 09, 2006

Noite de lua cheia sem lua

Estavam acesos os melhores incensos naquela tarde. Saí de casa com aroma de fumaças orientais no meio desse ocidente perdido. Apaguei a vela no meio do circulo e agarrei a minha menina pela mão, já era hora. A noite prometia, e não era falsa.
O garoto enchapelado já esperava no portão, e havia ainda um resto de cambada guardando nossos truques a batuques.
Era no centro da cidade, a indita cidade dos rios e das pontes. A maldita cidade, habitada por nós, desatinos. Então guarda seu tino no bolso, não é hora de usá-lo. Amanhã tu o retomas,tu só não guardas por muito tempo, se não acaba perdendo de vez. Tira tudo que não presta e põe na mesa, combina com carne e com pão, combina com pão e com circo. Mas não quando se tem uma mente impenetrável.
Lugar fechado. Escadas tortuosas, corações amarrotados sentados nas banquetas. Como um cárcere mesmo, concreto e grades , mas com vista para o céu, cinéreo naquela noite, assim como hoje.Éramos loucos, perdidos, presos entre paredes. Trancafiados na casa do Sr. Trigueiro, o menino sem fé nem juízo, mas quem se importa?! Só as mães.
Sentei-me. Contemplei o sabor das fumaças aos ares, não era oriental, não era incenso. Agarrei meu copo e não larguei mais. Na medida que o tempo passava, ia cozinhando.
Conversa vai, conversa vem. Um segredo no pé da escada, e alguns sussurros nas orelhas.O moço esguio falava-me de paixões platônicas e agudas. As escadas possuem bons ouvidos, eu também. Assim como você, meu caro, possuo segredos, mas sem nomes, por favor.
Lá em cima eram risos, sujeitos de camisa listrada, sujeitas de casaco de veludo, e mocinhos de camisa branca, crua e nua.E um ser, todo em negro, entre as nossas calças jeans.
Entre contos depravados e férteis discussões, o churrasco ficou na chuva e quase apagou. Foi necessário o nosso recolhimento para dentro da lavanderia.
Parece Que os Deuses não nos queriam lá fora.Não era dia de Baco. Na verdade era dia de Vênus, mas naquele dia não havia beleza.No entanto, Júpiter insistia em realizar grandezas, Deus pomposo que é.Mas eu Digo que dia de Dionísio é todo dia.
A noite passou, e as bocas também.Já não via nada certo, e não ouvia direito. Minha visão era um campo luminoso distorcido, e as vozes soavam como silvos.
Aos beijos com a garrafa, um sujeito me aparece.Senta-te.Deita-te, olha os céus.Hoje é noite de lua cheia, mas ela está perdida dentro das nuvens.Dizem os sábios dos astros que a lua cheia acentua as emoções, e dizem supersticiosos que a noite de lua cheia é a noite dos lobisomens e vampiros.Não, a noite é nossa.Noite cheia, noite fértil, noite que acolhe seus filhos desgraçados.
Por um longo tempo olhei o céu enquanto a fumaça subia em serpentina.
Esconderam de mim as estrelas e apagaram a Deusa sem ser lua nova. Deixaram-me só.
Falamos de sonhos, de astros e de feromônios. Mas então o encanto de Cinderela acabara. Vamos moça, já está na sua hora.Só não deixe seu sapato minha querida, que não há príncipe que o junte.Vamos, antes que o relógio grite meia-noite.Sua carruagem, meu bem?! Uma abóbora encantada puxada por ratos?! Nada disso.Não é uma cinderela típica, não há de ser uma carruagem típica.Uma laranja mecânica?!Também não.O melhor que uma Cinderela pode ter em um país de terceiro mundo é uma tangerina azul encantada com vermes que passeiam na luz da lua, numa noite sem lua,como já citado anteriormente. E vamos de volta para casa.
O caminho é longo, mas não é triste.Os bonecos de neve enfeitam a cidade, usam cartolas de luxo feitas de garrafas PET, bem como seu corpo que não é de neve.
A vantagem de ir-se embora em uma carruagem de tangerina azul com vermes que passeiam na luz da lua é a trilha sonora.Beatles,Seixas,Led e mais. Freddie Mercury ressuscitou em nossas corpos inspirados e cantantes.Os braços dados, as mentes unidas, mas tudo estava desafinado. O que importa de verdade é a intenção.
Já estávamos em nosso destino, em meio a um campo de batalhas e um campo de girassóis.Uma calçada fria, um papo quente.Sexo drogas e rock´n´roll é o lema.Mas nem tudo é levado ao pé da letra.
Encantada.As flores tem cheiro de morte?! Quem sabe!O nome da rosa ninguém sabia, mas ela tinha cheiro de amor.Doce e tonteante.As flores do campo estavam na cabeça, enfeitando orelhas e faces no escuro.O pé de alecrim exalava seu doce odor no jardim da Cinderela, que agora era o sol do seu girassol.
Entre Cinderela, deixe de conversa fiada.Voltemos nós para o jogo de cartas.Desta vez, eu era a rainha de espadas, furtando os coringas alheios.
O senhor enchapelado cantava e tocava para o baralho todo, era o velho Rock´n´roll amaldiçoando o mais novo baralho.Era a nossa geração em contato com uma outra.
A lua não acendia mais e era hora de ir.Dêem as mãos e voltemos todos juntos.Deixe que as mágoas se dissolvam no amanhecer.E deixa que alegria renasça como a força do rock, que prevalece sobre o tempo.
No começo do dia, eu terminei sozinha.Uma rosa.Tênue rosa esperando pelo orvalho da manhã.

Saturday, October 21, 2006

Veneno na boca

Assim como o Diabo faz em seus pactos ,ela fazia.Assinava com sangue a superfície facial de suas vitimas.
Era ela,com rubros sinais,matava e morria pela boca.Sempre querendo mais,desejando exaurir tudo.
Com os lábios sangrando por fora e o coração por dentro,ela saía despejando sangue.Uma vampira insaciável,sugadora das vontades e dos desejos.Só ficavam para trás alguns corpos,meio mortos,meios vivos.Exânimes.
Maligna.Pungindo faces com beijos purpúreos como quem marca seu rebanho a ferro e fogo.Com olhos vazios ela fita.Com boca cheia ela beija.